sexta-feira, 17 de abril de 2020

DÓI

Não sei para você
Mas dói em mim
O que houve em Paraisópolis
Dói em mim
Por eu ser pai preto
E ter filhos adolescente pretos
Por isso também dói em mim
Sou morador de periferia
E meus filhos também
Por isso também dói em mim
Hoje sou universitário
Estou empregado
Mas muitos de meus amigos
Não, aliás muitos deles
Hoje são apenas estatísticas
Por isso tudo isso dói em mim
Eu quando adolescente
Não frequentava bailes funck
Mas também não ia só para igrejas
Por isso dói em mim
Eu quando adolescente
Assim como muitos outdor
Pratiquei pequenos delitos
E não por necessidade
Era pura vontade de apenas zuar
Por isso coisas assim dói em mim
Nas escolas se cantava
O hino nacional e, tinha até ospb
Tinha palmatória e até reprovação
Mas desde aquele tempo
Ser pobre de periferia e ser preto
A única missão que tínhamos
Era, tentar sobreviver
Por isso dói em mim
Ainda como adulto é assim
Sabe o que também dói em mim?
É ler certos comentários que;
Elegem os mortos como culpados
É colocar todo adolescente
Desde que não seja o seu parente
Na vala comum
O que dói em mim é:
Ver um bando de adultos
Bater no peito e dizer;
Se fosse filho meu
Não estaria ali ...
Mas no dia da Kiss
Não vi ninguém falar assim
Dói em mim é ver
Todo tipo de comentário
Mas nenhuma lágrima
Todo tipo de justificativa
E solidariedade nenhuma
Dói em mim é saber
Que casos assim nunca terão fim
E aí me resta torcer que,
Os meus, assim como eu
Consigam sobreviver
Mas dói em mim como pai
Só de saber
Que ontem alguns filhos
Que saíram de casa falando:
Mãe, Pai, vou até ali
Nunca mais voltarão
Nem ao menos pra se despedir
Por estes e tantos outros motivos
Dói muito em mim

Elieser Marcelino



Nenhum comentário:

Postar um comentário